Surrupira

O que é um Surrupira? Por quê seu nome foi escolhido para representar o Museu de Encantarias Amazônicas?

Imagem de Caboclo Surrupira em terreiro de umbanda em Belém. Fotografia Diogo Melo.

Foto de Imagem de Surrupira enviada por Gabryel Pestana (Grupo do Whatsapp sobre Catimbó). 

Surrupira são entidades presentes no Tambor de Mina e Umbanda, que representam a ideologia do Museu Virtual Surrupira de Encantarias Amazônicas, por ser uma entidade ligada as matas, que possui características híbridas. Semelhantes ao mito do Curupira, possui os pés virado para trás; no entanto é representado com a pele negra, conforme a figura acima; e em seu mito são considerados índios pertencentes a aldeia de Caboclo Velho. Logo essa entidade resume o que são as religiões afro-brasileiras na amazônia e consequentemente o mito dos encantados a serem discutidos e apresentados pelo museu.

Azulejo com ponto riscado de Surrupira, vendido em lojas especializadas no Pará.

Azulejo com ponto riscado de Surrupira, vendido em lojas especializadas no Pará.

Tucumanzeiro

Palmeira da região amazônica, cheia de espinhos, que produz frutos comestíveis, bastante apreciados. Segundo contam, os Surrupiras habitam os pés de tucumanzeiro. O que pode ser entendido como uma metáfora da entidade, pois espinho representam a força e a defesa de uma planta e os seus frutos uma dádiva da natureza. Logo, apesar de aparentemente rudes, os Surrupiras são entidades que vem fazer o bem.

Tucumanzeiro com seus frutos tucumã. Retirado de helidapennafort.blogspot.com.br.

Família dos Surrupiras

Prandi (2004) menciona detalhes sobre a família dos Surrupiras, descrevendo-os como caboclos selvagens, sendo representações dos índios brasileiros, que não gostam de contato com a civilização. Menciona que tem fama de serem feiticeiros e "quebradores de demanda" e que antigamentes eram utilizados na Mina como entidades de limpeza das casas. Aspecto que as vezes os confundem com exus. Podem também ser chamados de curupiras e são identificados com os orixás Ossaim e Otim dos nagós. Ainda segundo o autor, a liderança dessa família não é brem certa, mas que acredita ser Vovó Surrupira. Também mencionam que são ligados ao Rei Sebastião, que seria seu chefe e que moram em uma encantaria chamada Boqueirão (mar) e são encantados no tucumanzeiro. Fato que os tornam ligado as águas do mar e as matas. No entanto mencionam que os Surrupiras tem pavor de água, polícia e armas de fogo. E seus rosários, guias, são nas cores verde, vermelho e azulão.
Segundo relato de Gabryel Pestana, existem duas famílias de Surrupiras, uma de "brasileiros", nativa da Amazônia e a dos Surrupiras da África, que eram antigos pigmeus que se encantaram. Ele descreve eles co índios bravos, que não gostam de claridade e quando viventes do nosso mundo, habitavam o centro de matas virgens, onde só se ver a luz no reflexo dos rios. Ainda segundo ele, o medo por água é um mito, pois  devido alguns rituais existiam preceito com água, não podendo tocar em água enquanto não terminasse o ritual. Destaca que Surrupiras trazem a corrente de mãe d´'água (encantos do fundo) e que muitos se encantaram em cobra grande, raízes de árvores, dentre outros coisas.


Alguns nomes de Surrupiras

Índio Velho Surrupira - desce bem selvagem e muito agitado.
Surrupirinha do Gangá
Marzagão
Trucoeira
Mata Zombana
Tucumã (nome do fruto do tucumanzeiro)
Tananga
Caboclo Surrupira Nagoriganga
Zimbaruê

Segundo alguns relatos de pais de santo a Cabocla Chica Baiana, muito associada a família da Baia também é uma Surrupira.

Ponto riscado da Cabocla Chica Baiana, uma Surrupira, impressão em azulejo.  Acervo Museu Surrupira.

Vulto de Chica Baiana. Retirado da página do Facebook Chica Baiana da Família da Baia.

Aparentemente nos terreiros de Umbanda no Pará, essa nominações não são bem, claras e os Surrupiras são tratados como se fosse uma única entidade ou um grupo de entidades semelhantes, que vem se contorcendo e além de trabalhar com demanda, são considerados curandeiros, vindo sempre ligado com o povo das matas.

Caboclo Velho (Japetequara no Pará, Sapequara no Maranhão e Jatapequara no Amazônas)

Em Belém a figura do chefe da família Surrupira esta aparentemente ligada a Caboclo Velho, também conhecido como Rei dos Índios. Tuxaua de uma aldeia de índios na Ilha do Marajó (Barra do Arari), que recebe as pessoas quando passam pelos portais da encantaria, conforme contado na história dos Turcos. Normalmente se apresenta como um caboclo muito velho e cansado, alguns contam que se encanta em um jacaré (VERGOLINO, 2002).

Detalhe do quadro A conquista da Amazônia de Antônio Parreiras, pintura no Museu do Estado do Pará (SIM/SECULT).

Jacaré-açu da amazônia. Imagem retirada do site G1.

Pontos Cantados

Foi numa raiz de coral 

Meu pai nasceu

Ele nasceu (bis)

Olha viva Caboclo Velho

É da Barra do Arari (bis)

Registros de Prandi (2004)

A velha Surrupira

Mandou me chamar (bis)

Pra ver a Mãe d'água

No fundo do mar (bis)

Eu não vou não

Eu não vou lá (bis)

Eu não vou ver

A Mãe d´água no mar

Surrupirinha do Gangá

- É do Gangá (bis)

E o meu pai é do Gangá

- É do Gangá (bis)

Eu também sou do Gangá

-É do Gangá (bis)

A sua coroa de espinhos (bis)

Eu também sou do espinheiro (bis)

Sou o Caboclo Surrupira

Morador do Tucumanzeiro (bis)

Ele é Surrupira

Ele é Marzagão (bis)

Ele é um caboclo

Da Virgem da Conceição (bis)

De um lado ele é Pedro

Do outro ele é João

Ele é o Caboclo da Virgem da Conceição (trecho coletado em terreiros de Umbanda do PA)

Quando eu vim da minha terra

Passei grande laranjal (bis)

Ah eu sou rei dos Surrupiras

Morador do Fundo do Mar (bis)

Registros de Vergolino (2002)

Mora no centro das matas

Arapixi é o seu lugar

Bate a sapupema

Sacode o maracá

E deixa Surrupira passar (bis)

A sua coroa

É de espinho

Ele também é

Do espinheiro

Seu pia é rei

É rei dos Surrupiras

É morador do Tucumanzeiro

Coletado do Pai Bruno (Mina PA)

Surrupira preto lá do poço de beber

Surrupira preto lá do poço de beber

Ele vê gente

Gente não lhe vê

Ele vê gente

Gente não lhe vê

Deram uma derrubada na mara do Turcuá

Deram uma derrubada na mara do Turcuá

Na hora da derrubada

Seu cachimbo esrava lá

Na hora da derrubada 

Seu cachimbo ficou por lá

Surrupira novo

Onde tu mora

Ou vira novo papai

Onde tu mora

Ele mora mata, com Deus e Nossa Senhora

Mora na mata meu pai, com Nossa Senhora

Ele fuma cachimbo, ele masca tabaco

No centro das matas não há embará

Ele fuma cachimbo, ele masca tabaco

No centro das matas não há embará 

Dono da casa, Surrupira em seu terreiro

Dono da casa, Surrupira em seu terreiro

Eu também sou jogador, da esquadra brasileira

Eu também sou jogador, da esquadra brasileira

Eu tava na mata, eu vi companheiro meu

Eu tava na mata, eu vi companheiro meu

Eu estava na mata quando eu vi uma pisada

Eu vi companheiro meu

Eu estava na mata quando eu vi uma pisada

Eu vi companheiro meu

Enviado por Gabryel Pestana (Grupo sobre Catimbó - Whatsapp - 02/08/2018)

Ele é pretinho ele é preto mesmo
O mosso tentou lhe encanar no seu murúrú
Ele é preto e tem suas canas verdes

Enviado por Milton Sousa de Teresina (PI) do Templo Espírita Umbandista Virgem da Conceição (16/10/2017)

“(...) a Entidade Surrupira é meu Guia de trabalho e aqui firmou os pontos abaixo”

Saí da mata da jurema

Ouvi o grito do leão

Olhei tão longe

mas a jurema, estava lá

Eu sou Moço Surrupira

Que venho trabalhar (bis)

Surrupira quando chega

Arrasta galha pelo chão

Ha, Surrupira, Surrupira

Pira peão (bis)

Retirado do Facebook da página Tambor de Mina

Meu pai é mata

aê meu pai é mata

meu pai mata zombana

vodum é mata 

Surrupira novo onde é sua morada?

é na mata!

é na mata!

é na mata do tucum!

é na mata!

Onde mora esse caboclo

Ele mora na ilha do meio

Ele é seu Surrupira, mora no olho do tucueiro

Ele é Surrupira e índio feiticeiro (bis)

Ele é Surrupira da Aldeia do espinheiro (bis)

Ele é caboclo índio, seu capacete é de pena (bis)

Enviado por Kethelem Salvatora (09/01/2016)

Ele é filho de Ossaim

Ele é neto de Nanã

O seu ponto é segugo

Arrebenta caroço de Tucumã 

Recebido de Mestre Renan do Catimbó de Brasília (DF) da Casa de Catimbó-Jurema Mestre José Pelintra - segundo ele fundamentos que aprendeu com Pai Tayando de Belém (PA)(17/11/2018)

Chama aianga

Chama aianga

Quero rever meu pessoal...

Chama o Rei dos Surrupira

Morador do cipuar

Chama o Rei dos Surrupira

Morador do cipuar

Pontos de Chica Baiana

Chica Baiana mora no oco do pau (bis)

Chica baiana vem

Chica Baiana vem baiar

Baiana Chica Baiana

Baina do Maracá (ou do tacacá)

Por causa dessa baiana 

Seu nego quis se matar 

(fornecido por Mãe Ofalocy do tambor de Mina)